Gatinhas Bem Cheirosas

Este é o blogue que vai certamente mudar a sua vida...para pior. Criamos ideias que não vão chegar a lado nenhum.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Dia dos namorados...dia dos suspiros e dos passarinhos a cantar requiu quiu..tal como o negro melro que depois fugiu...




Pois é..num dia assim especialmente bonito, uma das gatinhas recebeu uma inspiração graciosa das ninfas do Camões e decidiu colocar uma história, em honra daquelas que suspiram por amores não correspondidos. Para o próximo dia dos namorados a gatinha promete escrever um final mais feliz...

O Farmacêutico dos olhos verdes


Ela descia a calçada todos os dias para comprar comprimidos. Não que andasse sempre doente... Ela descia a calçada todos os dias para ir à farmácia da esquina comprar comprimidos, para a vizinha, a D. Graça, senhora que sofria constantemente de maleitas no estômago e de reumático. Não que fosse a madre Teresa de Calcutá... até porque a senhora era assim um pouco difícil de aturar, pois implicava com tudo, até mesmo com o simples barulho do autoclismo.
Ela descia a calçada todos os dias para ir à farmácia da esquina para unica e exclusivamente ver o farmacêutico de olhos verdes...
Quando a D. Graça não precisaca de medicamentos, situação rara, ela ia à farmácia comprar aspirinas ou trifenes que enchiam o armário da cozinha. Tudo isto só para ver o farmacêutico e os seus belos olhos.

- A menina deseja alguma coisa? - Perguntava ele com a sua voz tranquila de quem respira medicamentos a toda a hora. Que voz!
Ela, embevecida, olhava pra os olhos verdes e quase não respirava:
- Mais umas caretirinhas para o estômago da D. Graça, coitada! Nunca mais se cura daquela úlcera! Aqui tem a receita...
E o farmacêutico de olhos verdes, na sua voz medicamentosa, perscrevia:
- Uma carteirinha ao pequeno almoço e em jejum!
"Em jejum"... parece poesia!!!

Um dia, como todos os dias, ela desceu a calçada para comprar mais uma caixa de trifene, já que a dona Graça não precisava de carteiras para tomar em jejum.
Mas, esse dia não foi como os outros. O farmacêutico de olhos verdes não estava na farmácia. No seu lugar estava o sr. Ferreira, um homem roliço e bem disposto, de olhos pequenos e negros... não verdes.
- Então menina. Que deseja?
Ela, estupefacta e desiludida olhava para todos os lados na esperança de ver o seu amado com uma caixa de Benidon nas mãos e um sorriso de orelha a orelha. Suspirou, enfim:
- Enganei-me, não preciso de nada. - E fugiu da farmácia da esquina.
No outro dia, a mesma coisa. "Onde é que ele se meteu?"- pensava já desesperada. Lembrou-se de várias possibilidades absurdas, mas que poderiam se concretizar: Ele poderia ter respirado clorofórmio por engano a pensar que era água ou outra coisa menos perigosa. Neste momento, coitado, deveria estar na sua cama, como a Bela Adormecida de olhos verdes, à espera da princesa encantada para o salvar!!!
Mas não. a verdade nua e crua soube-se mais tarde. O farmacêutico de olhos verdes já não trabalhava na farmácia porque tinha se casado e estava a viver lá pr'os lados de Sesimbra.
Ela deixou de descer a calçada. Deixou de falar com a D.Graça só para não ter que ir à farmácia da esquina. Olhava para as aspirinas e trifenes e só lhe apetecia tomá-los um por um. Mas não os tomou. Tinha fome. No armário não havia comida. Tinha que voltar a descer a calçada.

Ela agora desce a calçada todos os dias para comprar maças na frutaria que está mesmo ao lado da farmácia. Está lá um novo empregado. Um rapaz de olhos azuis que muito provavelmente, um dia, decide casar-se e comprar uma casa em Sesimbra. E ela, mais uma vez, deixa de descer a calçada e decide comer maças até ter uma congestão. Final muito mais simpático do que se empaturrar com aspirinas ou trifenes...



Lá vai ela a descer, mais uma vez a calçada...